quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O Fascínio IKEA

Desafio da Daniela Tomás

 A mente dos homens é um autêntico antro de perversidade. Sempre que olhamos para uma mulher estamos irremediavelmente a pensar em javardice, e quanto mais atraente for, mais javardos ficamos. É inevitável. A bicefalia masculina tem dessas coisas.
Mas desengana-se quem pensa que a mente feminina é muito diferente da nossa. A Lei da Atracção não conhece géneros, mas como sempre, as mulheres são mestre na arte da simulação, ou melhor, da dissimulação.

Nunca desconfiaram do estranho encanto feminino por mobiliário? Do apreço por lojas como o IKEA? A explicação é simples e freudiana. Para as mulheres, a montagem de móveis serve de cartase sexual. Passo a explicar. Quando um homem é muscularmente bem constituído, é cognominado “armário”. E o que se faz no IKEA, e outras superfícies do género, vende-se armários para serem montados. “Montar armário”! É preciso dizer mais? Ao fim a cabo, o IKEA é uma espécie de bar de alterne virtual para mentes femininas.

Com o passar do tempo, as mulheres perdem as suas capacidades dissimiladores, e em vez de disfarçar com móveis de madeira, atacam armários de carne e osso. Desconfio que as mulheres procuram efeitos rejuvenescedores nesses jovens. Dizem, e não sei se é verdade, que os mobiliários ambulantes são mais lentinhos. Tal e qual os caracóis. Se calhar a sua baba também rejuvenesce!

Com os isto tudo podemos afirmar, que os homens são muito menos complicados no que toca no apreciamento feminino. São muito mais javardos, mas muito menos complicados

O Cronista da Parvoíce © 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A Malvadez Sedutora

Desafio do Bruno Ferreira

Palavras Impostas: adeus, Adriana, cona-mole, esternocleidomastóideo, princesa, traição e zarabatana

Hoje acordei decidido em mudar a minha vida sentimental. A minha relação com a Natasha já não faz sentido. Ela nunca tem uma palavra amiga e está constantemente com aquele olhar fixo e reprovador. Para além que sempre que estou com ela, sinto-me asfixiado, sem folgo e isso não é saudável. Afinal sou asmático e custa-me imenso enchê-la todos dias.

Não aguento mais. Vou arrumá-la no caixote! Não vai ser fácil acabar a nossa amizade colorida (se bem que com o tempo e o desgaste a cor desvaneceu um bocado!), mas tenho de arranjar uma namorada de verdade. Chegou a hora de dizer adeus à Natasha. Mas pelo sim ou pelo não, vou ficar com o caixote por perto.

Vou precisar é de ajuda, não sou muito dotado no campo da sedução. Sinceramente não percebo as razões do meu insucesso. Eu sou charmoso! Desde que visto a uma distância de aproximadamente 2km. Estou a exagerar, basta 1km e não há risco de problemas oculares. Eu quando tenho um encontro faço sempre uma loucura, tomo banho. Tenho receio em admiti-lo mas acho que tenho um sério problema e não posso mais fugir às evidências. Sou alguém uma Capacidade Obtusa na Natural Arte Masculina da Obtenção de Leviandade Efetiva. Por outras palavras, um cona-mole.

Um amigo meu, cujo nome não vou revelar por questões de segurança (Estás ver Bruno! Eu disse-te que não te iria expor!), disse-me que o meu problema é tratar mulheres como se fossem princesas. E isso já não resulta. Aqueles elogios, aqueles floreados verbais já estão ultrapassados. Temos de ser maus. Confesso que não me imagino, ou imaginava, tratar as mulheres dessa forma. Parece-me uma traição ao romantismo. Mas é a custa do romantismo que eu tenho gasto um dinheirão em remendos. Eu estava constantemente a furar a Natasha.

Com as dicas preciosas do… meu amigo… Não disse o nome… Quase… Mas um pouco e queimava o Bruno. Enfim. Com as dicas do meu amigo decidi convidar a Adriana para beber um café. E convidei, mas ela nunca apareceu. Fui falar com ele para ver se tinha mais dicas e talvez me explicar o porquê do falhanço do meu convite.

–“Convidei a Adriana para beber café mas ela não apareceu!” 
–“Não apareceu?” 
-“Não! Ainda pensei que ela tivesse só atrasada, mas depois de 15horas a espera dela… Comecei a desconfiar!” 
–“E não lhe ligaste para saber o que se passava? 
-“Eu não!”
-“Não!? Então porquê?” 
-“Não tenho o número dela!” 
-“Não tens o número? Estranho! Eu tenho!” 
-“Como assim tens o número dela?” 
-“Mas se não tens o número como é que a convidaste?” -“Como toda a gente faz! Pelo Facebook!” 
-“E ela respondeu?” 
-“Não! Ela não fala muito comigo! Deve estar sempre muito ocupada! Ainda ontem meti conversa com ela e…” 
-“Por acaso ontem falei muito com ela” 
-“…e não me disse nada” 
-“Explica-me porque pensaste que ela beber café contigo.” -“Porque fiz convite e apareceu aquela cena do visto e como ela não disse nada e como quem cala consente, pensava que era uma confirmação!”

Como não sou pessoa de desistir, fui ter com a Adriana para ir beber o tal café. Para ela não ter hipótese de recusar, e no seguimento dos conselhos do Bruno, fui com uma postura malévola e armado da minha zarabatana. Não chegamos a ir. Quis fazer uma demonstração da minha habilidade tribal, mas o resultado não foi glorioso. Acertei em cheio no esternocleidomastóideo da Adriana. Não sabem o que é? Vão pesquisar!

Com a Adriana fora da corrida vou ter de voltar para junto da Natacha! Mas… Mas onde é que pus a porcaria do caixote?

O Cronista da Parvoíce © 2014

domingo, 12 de outubro de 2014

O Pingo Rebelde

Ao longo da nossa vida, lidamos com situação bastantes embaraçosas, ao ponto de fazer de “Só eu sei, porque deveria ter ficado em casa”, o nosso hino pessoal. Quantos de nós já foram para escola com as meias por cima das calças? E com sapatos diferentes? E com a camisola do avesso? Ninguém!? O quê! Isto não pode ter acontecido apenas a mim! Podem ser imunes a maioria da panóplia infindável desse tipo de situações, mas se és homem (com o atributo que comprova a tua masculinidade) é impossível teres escapado ao grão-mestre do ridículo: o pingo rebelde.

É inevitável, e por mais sacudidelas que dês, aquele malfadado pingo resistente aguente-se firme até decidir de estragar a tua noite. Os mais afortunados molharão apenas os boxers, os mais azarados, como eu, ficarão com as calças marcadas pelo infortúnio.  

Comigo acontece sempre te tenho um encontro. Pior, No primeiro. Para dizer a verdade, nunca tive mais de um com a mesma mulher. Durante o meu último jantar fui vitimizado pelo pingo rebelde. Espero que a Sara não tenham ficado com a ideia que não aguento com um decote e que preciso de uma ida a casa de banho para extravasar os impulsos. Ou que apesar de somente ter bebido 5 litros de álcool durante o jantar, a minha arca não aguentou o dilúvio, devido ao seu tamanho. Não é fácil ser homem!

E depois as mulheres têm a ousadia de afirmar que a masculinidade traz mais vantagens em questões urinárias. O facto de urinar de pé, não é por si só um benefício. Sim! Podemos fazê-lo em qualquer parte, sendo obviamente a casa-de-banho mais adequado. Uma vez fi-lo nas flores a frente de casa e a minha Mãe não achou muita piada. Tenho culpa dos lilases não serem resistentes a urina? A verticalidade urinária implica o medo constante da entaladela no fecho (doí-me só de pensar nisso) e da vistoria das calças, com uma inspeção a pente fino da presença de resíduos. No domínio sanitário impera a lei da selva, é cada um por si (nós não vamos aos pares), não perguntamos uns aos outros se tamos pingados ou não. Confesso que seria bastante estranho e amaricado. -“Desculpa, mas podes ver se estou pingado?” –“O quê? Queres que eu olho para onde?... Rabeta!”

Com isto tenho de voltar para o meu encontro e aproveitei esta ida a casa de banho para falar um pouco deste flagelo da rebeldia pingante. Já demorei muito e desta vez não vou estragar tudo. Vou ter um segundo encontro! Está garantido… Ohhh… Não acredito… Estou todo pingado…. Outra vez… Vou ficar sozinho para sempre!!!

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Foi assim que respondi ao desafio do Fábio Gaspar

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O Embaraço Reprodutivo

A minha mente é o refúgio perfeito para inúmeras palermices e muitas questões parvas. Questões, que ao longo do tempo, me vão dilacerando o intelecto. Porque é que a água mineral, que corre pelas montanhas durante séculos, tem uma data para consumo? Por que as pessoas apertam o comando da televisão com mais força quando a pilha está fraca? Ainda não desisti, e estou certo que em dia de bebedeira, conseguirei responder a todas essas perguntas. Mas existe um mistério tão misterioso, uma intriga tao intrigante, que não consigo desvendar: Porque é que as pessoas tem mais vergonha de comprar preservativos do que papel higiénico?

Do que se orgulharia mais? Ser um insaciável e frequente praticante de recriação “coital”? Ou um mega produtor fecal? Humm… Estou mesmo indeciso! Qual é a resposta certa? Se algum de vós imagina “Guerra dos Tronos” (porque na casa de banho é recorrente encontrar esse tipo de literatura) retrata o conflito concorrencial na indústria da louça sanitária, tenho duas mensagens: “Vai tratar-te e é melhor deixar de inalar o teu drunfo intestinal!” e “Seu ignorante de merda (este termo nunca foi tão apropriado!) não conheces mesmo a “Guerra dos Tronos”? Não te preocupes quando estiver contigo, eu explico-te. E de uma forma civilizada! Após espancar-te utilizando todos os volumes da obra de George R. R. Martin e afogar-te na sanita.”

Para demonstrar que não é vergonha nenhuma comprar preservativos fui ao supermercado, agarrei uns quantos, 30 ou 40, não sei precisar. O quê? Pode não parecer, mas tenho uma resistência física do catano. As idas ao ginásio não foram para o inglês ver! E quem que encontro na caixa? O Sr. Paulo, o pai da minha namorada! -“Então por aqui? Cuidado com a minha filha! Não faltas de respeito na minha ausência! Eu sei como vocês são! Eu também já fui jovem.” Posei o meu cesto de forma a evitar o avistamento da quantidade massiva de preservativos. E como não quer a coisa, perguntei ao rapaz da caixa: “Por acaso, não me sabes dizer onde está o papel higiénico?”

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E assim respondi ao desafio da Daniela Tomás

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Um Mundo Futebolisticamente Surreal

As sociedades modernas estão repletas de vícios. Alguns mais patentes do que outros. Há quem goste de fumar e há quem goste de beber. Eu gosto de futebol e de pornografia. Com esta confissão deixei-os todos num profundo estado de choque e passaram a ver-me como um pervertido. Confesso que estou um pouco envergonhado com esta revelação, e sim não há duvida que alguém que consegue estar uma hora e meia a ver uns quantos indivíduos correrem atrás de uma bola, só pode ter uma mente perversa.
Decerto que acharão curioso, mas os vícios, para além de inocentes e indecentes, estão intimamente ligados. Afinal, ver futebol é como ver pornografia. Tem montes de acção (com excepção de muitos jogos da liga portuguesa), geralmente não conseguimos desviar os olhos daquilo. Mas quando acaba, perguntamo-nos sempre porque diabo desperdiçamos duas horas das nossas vidas com aquilo.

Este desporto tem o poder estranhíssimo de cessar a nossa racionalidade e atrofiar os nossos sentidos motores. No visionamento de um jogo, ficamos em estado de letargia cognitiva, refletida pelo simples facto de falarmos com um objecto inanimado, neste caso a televisão. Por muito que gritamos “CHUTA!” PASSA A BOLA!” “OLHA PARA AQUELE LADO, ELE ESTÁ DESMARCADO!” Ninguém acarreta as nossas ordens. Mas se resultasse? Se eles obedecessem? Não me parece que fosse uma boa coisa. Com milhões de ordens contrárias, os jogadores ficariam atrofiados (mais) e até estáticos. “Então Pá! Não te mexeste porquê?” “Desculpa, mas tava um dizer chuta, o outro passa… Fiquei sem saber o que fazer!”

Outro fenómeno curioso é o facto, o poder que o futebol tem em apelar a nossa bipolaridade. Num instante passamos de adepto “Dr Jekyll” a adepto “Mr Hyde” e vice-versa. E a coisa é bastante ridícula quando olhamos de fora. Basta uns maus jogos e temos a certeza que a nossa equipa é uma porcaria. Nesses casos, ELES são péssimos. Mas uns quantos jogos depois recheados de vitorias boas exibições, SOMOSos maiores.

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Esta foi a resposta ao desafio do André Silva Lopes

sábado, 31 de maio de 2014

Um Mundo Sem Piaçaba

Hoje acordei com uma sensação estranha. Algo mudara durante a noite e essa mudança era irreversível. Confesso que tive a secreta esperança que este amanhecer fosse o início de uma vida nova e que o tão ansiado D. Sebastião da Intimidade tinha finalmente chegado trazendo com ele firmeza e imponência. Mas quando olhei para debaixo dos lençóis, a verdade continuava diminuta. Enfim, uma verdadeira desilusão!

Ultrapassada a tristeza da estagnação dimensional do coiso, senti a ausência inexplicável de algumas memórias. É como se algumas informações primordiais para a minha sobrevivência me tivessem sido sonegadas. Por mais que me esforçasse não me conseguia lembrar. Faltava me algo e não sabia o quê.

Percorri a casa em busca de respostas, à medida que passava pelos quartos, cada um com sua decoração personalizada, apercebia-me que lhes faltava qualquer coisa. Um poster com gajas nuas? Um candeeiro para ver o poster a noite? Uma lâmpada para o candeeiro? Uma extensão para o mesmo? Não fazia a mínima ideia!

Quando cheguei a cozinha, senti um arrepio e realizei algo. Andar nu pela casa não é uma tão boa ideia como parece. Com o frio o meu objeto de estimação tende a minguar. Visto que o mundo hoje está estranho, com desaparecimentos e tudo, pode acontecer-lhe o mesmo. É melhor não arriscar.

Depois de me vestir, voltei a cozinha e estranhei o facto de o meu pequeno-almoço não estar preparado. Eu tinha quase a certeza que o iria encontrar feito. Será que alguém o costuma fazer? Ou tenho hábitos de caça? Então ainda bem que me vesti. Caçar nu não deve ser prático.

Foi quando o meu estômago apertou e tive de ir a casa de banho que a minha memória voltou. Depois de expelir o pior que há em mim e puxar o autoclismo, tive a necessidade de eliminar os vestígios da minha maldade interior. Era imperativo apagar a prova da minha putrefacta alma estomacal. Mas como fazê-lo? Pode lutar contar esse arqui-inimigo? Como destruir a passagem desta anaconda fecal?

Procurei em redor, e de repente, a resposta veio a mim. Não foi bem a resposta, foram mais náuseas. Estava um cheiro que não se podia. Mas depois veio mesmo. O piaçaba! Como me pude esquecer do piaçaba! E do nada reapareceu! Tal mosqueteiro do sanitário empunhei a minha espada piaçabica e lutei bravamente contra o malvado CóConde. É claro que o malvado não teve hipótese. Desde então ando sempre com o meu piaçaba embainhado a cintura. Já me lembro de mais algumas coisas, sei que não vivia sozinho aqui, mas não me consigo lembrar quem eram essas pessoas. Mas eram muito parecidas comigo!

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quinta-feira, 29 de maio de 2014

A Narcolepsia Cognitiva Masculina

Aposto que não são poucas as vezes em que enfrenta aquele aparente entorpecimento intelectual que te deixa com um olhar vago. Já conseguiste explicar o que se passou com o teu cérebro naquele instante? Ou dizer para onde a tua mente foi transportada? Não acredito! Podem estranhar esta minha descrença, mas depois de revelar este segredo e o destino dessa viagem mental, certamente que irão perceber.

Quando alguém está silencioso, pensativo, não está prestes a resolver todos os males que assolam a humanidade. Está num momento de extrema javardice. Viajámos mentalmente num instante. Do segundo para outro, estamos no famosíssimo Mundo dos Sonhos, ou Mundo Lunar (“Estar na Lua”), uma realidade alternativa erótico-badalhoca.

O homem é um ser racional, e como tal pensa frequentemente, mais concretamente em gajas. Nuas de preferência. Nuas e bastante antipáticas. Não por terem um fetiche sadomasoquista, mas a simpatia não é um predicado importante no mundo da porcalhice. É mais difícil criar um enredo jarvado com alguém simpático.

Para muitos a simpatia é uma qualidade, um atributo moral relevante, mas no mundo da jarvadice é o contrário. Quando classificamos alguém de simpático e esse alguém é uma mulher, nunca teremos pensamentos impróprios com essa pessoa. Só mesmo no caso de sermos cegos, ou sermos cegos. “Tenho uma amiga que te quero apresentar!” “É boa?!” “Não, mas é simpática!”. Está tudo dito!

O homem é um ser bicéfalo, ou seja, está munido de duas cabeças pensantes mas nunca simultaneamente. Quando uma pensa, a outra está a descansar. Sempre que aparece uma gaja boa, acontece um adormecimento cerebral repentino, uma narcolepsia cognitiva. Durante reparamos no vazio refletivo do entorpecido, daí a sua ausência de resposta quando acaba de vivenciar esse fenómeno. “Estavas a pensar em quê?” “Em nada!”

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E assim respondi ao desafio do André Silva Lopes

sexta-feira, 23 de maio de 2014

A Perigosidade dos Telemóveis

Desafio do Bruno Ferreira

Detesto acordar sabendo que vou ter de lutar contra a força gravitacional da minha cama. Por mais que me queira levantar, sinto-me irremediavelmente atraído pela sua horizontalidade. Essa falta de vontade levadiça é acrescida pelo facto de saber que o dia vai correr mal.

Como sei que o dia vai correr mal? Recorrendo ao meu talento secreto! Há quem tenha sonhos premonitórios, eu tenho acordares premonitórios. Sei que o dia vai correr mal, quando acordo com uma dor aguda no colhão esquerdo e pouco minutos mais tarde, a minha premonição verifica-se quando a dor passa para o lado direito. Malditos telemóveis e suas vibrações! Deram-me cabo do material!

E hoje foi mais um desses maus dias iniciados com a inevitável dor testicular e uma tremenda cefaleia. Eu não me recordo muito bem da noite passada, mas pelas movimentações estranhas da casa (ela não para de andar a roda), deve ter sido complicadíssima.

O mais estranho é ter acordado com um número de telemóvel escrito no antebraço. Mesmo sóbrio nunca fui um Calimero de sedução, quanto mais embriagado. Sim! Não me enganei! Podia ter falado em D. Juan ou Casanova, mas o Calimero é que foi à Abelha Maia. E conseguir uma relação inter-espécie é de valor! Ele é o verdadeiro sedutor!

Com a azáfama matinal e a minha tendência natural para os atrasos, não cheguei a ligar para o misterioso número, mas não o apaguei. Não o fiz por curiosidade, mas também porque foi escrito com um marcador indelével. E pergunto: “Quem é que saí a noite com a porcaria de um marcador?”

Quando cheguei ao meu carro encontro no seu interior uma suspeitíssima mochila preta. Talvez o número seja do dono, ou da dona. Uma vez ao volante, e a caminho do trabalho, os carros do sentido contrário teimavam em vir para a minha facha de rodagem. Talvez para tirarem uma selfie comigo, visto que estava no Facebook enquanto conduzia.

Com o carro estacionado, aproximando me do escritório, e depois ter espetado o pé num buraco, ia-me escavacando todo ao falhar um degrau das escadas. Tudo porque estava a mandar umas quantas sms. Esta cidade é um perigo. Estas condições arquitetónicas têm de ser revistas!

No final do dia, e depois de um árduo dia de trabalho, vi a mochila e lembrei-me de ligar para aquele número. Mas como não sou totalmente parvo, e estou bem ciente do perigo que é telefonar e conduzir ao mesmo tempo, achei por bem estacionar numa de gasolina e liguei. Resultado: um grande estrondo!!!

Lição do dia: Os telemóveis são de facto perigosos. Fazem explodir mochilas, carros, bombas de gasolinas e pessoas (eu estava demasiado perto do carro quando ocorreu a explosão!). E nunca devemos ligar para um número desconhecido, se não tiver associado a um nome de uma mulher.

O Cronista da Parvoíce © 2014

domingo, 20 de abril de 2014

A "Clisterização" Inequívoca

Desafio do Bruno Ferreira

Em momentos de maior aperto intestinal em que a libertação é mais de que um sonho, é um desejo, eis que de dentro das brumas da casa de banho surge, o herói solitário, o D.Sebastião das dejecções, a catarse fecal: o clister. Este herói anal e libertador tem ora entradas triunfantes e abruptas, mas sempre com um fiel aliado (a vaselina), ora entradas subtis e estratégicas.

Depois de perceber o poder emancipador do clister, pode ser complexo para alguns, muitos quiçá, complicadíssimo até, entender a sua plenitude quando mergulhado numa esfera filosófica. E não estou a falar de Pato WC! Nesse mundo simbólico, o seu poder redentor é também inquestionável, indiscutível. Falamos então de “clisterização” inequívoca, e esta ocorre sempre em noites de bebedeiras.

Quem diz noites, diz tardes ou manhãs. O importante é compreender as similitudes entre as bebedeiras e o efeito clister. É bastante simples. O que acontece depois da aplicação do clister? Merda! Certo? O que acontece quando estamos embriagados? O que das nossas bocas? A manifestação do Síndrome da Diarreia Mental, ou merda, para os leigos.

O álcool faz-nos fazer coisas incríveis como pôr a chave do carro na fechadura da porta de casa e termos a impressão que ela vai arrancar. Damos conselhos aos nossos amigos que estão menos embriagados do que nós “ Vai de Taxi! Eu tou bem! Eu vou com o meu carro! Porque raio a terra está a mexer? E olha lá eu não sabia que tinhas um irmão gémeo?” “Vomita men! Vais ficar bem melhor! Mete os dedos na goela!.... Não na minha, pá!”

O álcool consegue embelezar qualquer anormalidade e também torna a pessoa mais anti-social do mundo, na pessoa mais sociável a face da terra. Ficamos tão sociáveis que até falamos com objectos inanimados, como o carro (“Oh Peugeot! Onde que estás!?”), com a fechadura (“Eh pá! Hoje tas eléctrica! Não pares de te mexer! Tá quieta!”) ou mesmo os sapatos quando chocamos com eles (“Shiuuuuuu!”)

O Cronista da Parvoice © 2014

sábado, 19 de abril de 2014

Um Mundo Futebolisticamente Surreal

As sociedades modernas estão repletas de vícios. Alguns mais patentes do que outros. Há quem goste de fumar e há quem goste de beber. Eu gosto de futebol e de pornografia. Com esta confissão deixei-os todos num profundo estado de choque e passaram a ver-me como um pervertido. Confesso que estou um pouco envergonhado com esta revelação, e sim não há duvida que alguém que consegue estar uma hora e meia a ver uns quantos indivíduos correrem atrás de uma bola, só pode ter uma mente perversa.

Decerto que acharão curioso, mas os vícios, para além de inocentes e indecentes, estão intimamente ligados. Afinal, ver futebol é como ver pornografia. Tem montes de acção (com excepção de muitos jogos da liga portuguesa), geralmente não conseguimos desviar os olhos daquilo. Mas quando acaba, perguntamo-nos sempre porque diabo desperdiçamos duas horas das nossas vidas com aquilo.

Este desporto tem o poder estranhíssimo de cessar a nossa racionalidade e atrofiar os nossos sentidos motores. No visionamento de um jogo, ficamos em estado de letargia cognitiva, refletida pelo simples facto de falarmos com um objecto inanimado, neste caso a televisão. Por muito que gritamos “CHUTA!” PASSA A BOLA!” “OLHA PARA AQUELE LADO, ELE ESTÁ DESMARCADO!” Ninguém acarreta as nossas ordens. Mas se resultasse? Se eles obedecessem? Não me parece que fosse uma boa coisa. Com milhões de ordens contrárias, os jogadores ficariam atrofiados (mais) e até estáticos. “Então Pá! Não te mexeste porquê?” “Desculpa, mas tava um dizer chuta, o outro passa… Fiquei sem saber o que fazer!”

Outro fenómeno curioso é o facto, o poder que o futebol tem em apelar a nossa bipolaridade. Num instante passamos de adepto “Dr Jekyll” a adepto “Mr Hyde” e vice-versa. E a coisa é bastante ridícula quando olhamos de fora. Basta uns maus jogos e temos a certeza que a nossa equipa é uma porcaria. Nesses casos, ELES são péssimos. Mas uns quantos jogos depois recheados de vitorias boas exibições, SOMOS os maiores.

O Cronista da Parvoíce © 2014

E assim respondi ao desafio do André Silva Lopes

terça-feira, 15 de abril de 2014

Os Benefícios de iniciar o dia “à pão e água”

A forma como iniciamos o dia é fundamental para o decorrer do mesmo. Dizem que o pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia e não duvido. Conheço uma enfermeira que vaticina que iniciar o dia com uma refeição equilibrada em pão e água só pode ser benéfica e até pode salvar vidas. Por outras palavras, se começar o dia com essa alimentação específica, eu posso tornar me num herói. Daqueles que salvam bebés quando caem do 5º andar.

Confesso que esta história heroico-alimentar me deixou com várias dúvidas, e com perguntas por sinal bastante pertinentes: “Sempre que o meu pequeno-almoço tiver uma incidência aguada e panificada tenho de rondar os prédios todos para evitar a queda de bebés? Ou só aqueles que têm 5 ou mais andares? Se ele cair do 1º andar? Tem de ser salvo?”

É óbvio que o bebé tem de ser salvo, quer vindo do 5º ou 1º andar, mas no segundo caso parece-me muito menos heróico. Há muito menos dramatismo e suspense. É mais uma questão de reflexos. Existe até uma norma no manual de “Heroísmo Urbano”, o art.45 secção b: “qualquer salvamento de bebés, com uma queda inferior ao 4º andar, não é considera heróica”. A comunidade não nutriria de qualquer reconhecimento ou valorização do esforço. Seria como uma nódoa impossível de sair do cadastro de um herói. Salvar aquele bebé seria o mesmo que salvar uma cortadora de relva.

E digamos que salvar uma criança, proporcionar-me-á um grande sentido de reconhecimento/admiração vindo dos pais. Num gesto de profundo agradecimento a mãe, a irmã, a tia ou a prima podem estar tentadas a faze-lo de uma forma mais intensa. Obviamente eu recusaria tal gesto, dependendo da morfologia das mesmas. Agora se eu salvo o cortador de relva? O que me vai acontecer? Não me parece que esse salvamento não seja muito proveitoso, quer a nível físico (aquelas coisas pesam), quer nível pessoal. Será que posso confiar nalguém que vive num apartamento e mesmo assim tem um cortador de relva?

Isto tudo para dizer o quê? Simplesmente que aquela enfermeira tinha razão. Numa manhã, depois de ter sido apanhado em flagrante a olhar para um decote onde não devia. O namorado da jovem espetou-me um papo-seco (pão) nos ventres e cuspiu-me (água) para a cara. Comi e calei. Para os compensar, e como ainda não estou restabelecido do meu entorse no pulso, dei-lhes duas caixas de preservativos que acabara de comprar. Evitando assim que tenham, para já, bebés. Assim a criança não nascida não arrisca-se a cair de qualquer andar.

O Cronista da Parvoíce © 2014

Nota: Este tema foi tramadíssimo e confesso que tive uma tremenda dificuldade em escrever algo de jeito, de tal forma que fiquei 2 dias perante uma folha que persistia em ficar em branco. E depois lembrei-me: “Porque é que não vais buscar uma caneta?” “E porque não fazer diretamente no PC?” “E que tal comprar um PC?” “Quando tiver o PC talvez seja melhor pagar a luz!”


E assim respondi ao desafio do Bruno Ferreira

domingo, 13 de abril de 2014

O Godzilla Intestinal

Há pouco tempo colocaram-me uma questão estranhíssima, e francamente intrigante. Preguntaram-me se, e passo a citar: “O Godzilla já te estragou um jantar romântico?” Depois de ouvir tal pergunta, e como qualquer pessoa racional, contra-ataquei com uma questão deveras pertinente: “Andas a fumar o quê?

Como é que o Godzilla, Gojira, ou ゴジラ em japonês (Sim! Pesquisei!), me poderia estragar um jantar? Ainda por cima romântico! Não acham que se tivesse uma vida social e romanticamente ativa, eu não teria já denunciado a minha assinatura da Playboy? E quem, no seu perfeito juízo, iria jantar comigo? E num clima meloso.

Admitindo que conseguisse o milagre de ter um jantar romântico, eu não precisaria do Godzilla para o estragar. Consigo fazê-lo sozinho. Podemos dizer até que tenho um talento inato para esse tipo de estragação. Ou porque me esqueci de fazer a reserva naquele restaurante aclamado e acabamos por ir, ora a pizzaria, ora a barraca das bifanas. Ou porque me esqueci, inadvertidamente (e frequentemente) da carteira em casa e ela acaba (sempre) por pagar o jantar.

Continuando no campo do improvável e o tal jantar ocorrer, seria bastante estranho uma lagartixa gigante interromper o quer que seja. Parece-me que a pessoa que proferiu tal interrogação, não estava devidamente informada. Não quero de ser de nenhum modo inconveniente, ou armar-me em sabichão, mas é praticamente impossível o Godzilla aparecer em Portugal. Faz-me confusão quando as pessoas dizem coisas sem nexo nenhum. No máximo dos máximos aparece nos Estados Unidos da América, ou até no Japão. Será que não estão atentos quando vêm os filmes?

Mais tarde percebi que o Godzilla referido, não era o monstro dos filmes, mas aquele que nos transtorna os intestinos, esguicha as nossas fezes e nos torna momentaneamente asiáticos. O cerne da questão, não era o Godzilla cinematográfico, mas sim o intestinal.
O que não entendo é porque não fazem logo a perguntas de um modo percetível. Custava muito, em vez daquela história toda do Godzilla, me ter perguntado: “Estar de caganeira já te estragou um jantar romântico?”

O Cronista da Parvoíce © 2014


E assim respondi ao desafio da Ana Pelotas

sábado, 12 de abril de 2014

A Vantagem da Ambidestria

Tal como a maioria das pessoas sou destro e sempre achei os canhotos anormais. Pelo até me aperceber que a minha mãe é canhota e passaram todos a serem anormais, menos a minha querida mãe que tanto adoro (no caso remoto dela ler isto!).

Eu considerava os canhotos como os arqui-inimigos dos destros, pessoas repletas de ignomínia e outros defeitos possíveis e inimagináveis. Ser esquerdino só poderia ser sinónimo de algo mau, porque quando alguém apresenta qualidades e habilidades, dizemos que ele está repleto de destreza, não de “esquerdeza”. Portanto só pode ser algo de mau.

E não é que descubro, que os canhotos, esquerdos ou esquerdinos, também são chamados de sinistromános. Se isto não é um indício claro de vilania, vou ali e já venho. Ser sinistro é mesmo algo mau, não acham suspeito alguém ter uma identidade manual intitulada: “SinistroMan”. É o típico nome de super-vilão.

Como disse há pouco não achava piada nenhuma até acontecer o drama que mudou a minha vida. O Dia em me aleijei na mão direita. Estava a passear quando oiço alguém a gritar: “Ajudem-se! O Pitosga caiu ao rio!”. Fiz conta que não era nada comigo e estava para seguir o meu caminho, até me aperceber que quem estava a gritar era um bela jovem. Como podem calcular, o meu lado destro, o meu lado heroico surgiu e para impressionar as jovens (para além da dona do pitosga, havia uma série delas a observar a cena) e salto para o rio. E obviamente, magoei-me, podem não conhecer o Rio Lis, mas ele não costuma estar propriamente cheio. A queda foi dolorosa. Bati com a cabeça e os joelhos no chão. Mas o pior não foi isso, quando cheguei finalmente a beira do Pitosga percebi que era um peluche e comprado nos chineses.

Depois de devolver o a porcaria do peluche, e sem compensação afectiva, regressei desiludido até o meu carro. Confesso que estava a espera de uma recompensa simbólica. Não pedia muito. Um simples beijo ou algo intensamente mais íntimo. No momento que vou a fechar a porta acontece algo inesperado. Sento-me no lado errado no lado do passageiro. E pior. Entalo a mão direita. E aí desesperei, depois de um ato heroico onde poderia ter perdido a vida, tinha-me magoado no meu carro. Pior ainda. Com esta lesão a minha vida sexual ficava seriamente comprometida.
Passei a usar a mão esquerda para todo o tipo de atividades e pouco depois acabei por tornar-me ambidestro. E percebi finalmente quais as grandes vantagens desse ying-yang manual. São tantas que perderia muito tempo a enumera-las e isso me impediria de usar esse meu novo talento maneiro na realização simultânea de duas das minhas grandes paixões: os bolos e a pornografia.

O Cronista da Parvoíce © 2014


E assim respondi ao desafio do Fábio Gaspar